quinta-feira, 5 de abril de 2018

Ibogaína pode ser o futuro da cura do vício em drogas!




Aos 13 anos, Felipe Cruz tomou seu primeiro porre antes de ir para a escola. Aos 17, já tinha experimentado todo tipo de droga. “Usei praticamente de tudo: cocaína, crack, maconha, LSD, tudo que dava uma sensação de euforia e prazer, as coisas iam aparecendo”, conta. Dos 18 anos até os 26, passou cerca de 20 tipos de tratamento e internações. Saía de uma clínica, tomava muitos remédios para as crises de abstinência, mas acabava voltando para a rotina das drogas.


Em 2011, sua mãe descobriu uma pesquisa que testava o uso de ibogaína para tratamento de dependência química em uma clínica em Curitiba. Mesmo descrente, convenceu o filho a viajar de Ponta Grossa, cidade natal da família, no Paraná, para a capital do estado.


O tratamento do Felipe gerou um artigo publicado em 2014 no Journal of Psycopharmacology de Londres, na Inglaterra, por uma equipe da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Foi o primeiro estudo retrospectivo que analisou os efeitos da ibogaína para tratar do vício em crack e cocaína. A conclusão foi das mais animadoras: manteve, até o fim do acompanhamento, 72% dos pacientes abstinentes do vício. Felipe fora um deles.


Alçada desde então como nova esperança de cura para a dependência química, a ibogaína é extraída da planta Iboga, originária do Gabão, no oeste da África. Seu suposto poder de cura começou a ser falado nos anos 60, quando o americano Howard Lotsof, então com 20 e poucos anos e viciado em heroína, viajou para África e foi apresentado ao que julgou ser a viagem mais louca de sua vida por meio da ingestão de ibogaína. Depois de experimentar a substância, Lotsof não sentiu mais vontade de usar heroína e dedicou sua vida a entender esse efeito.


Quando voltou aos EUA, nos anos 80, Lotsof publicou uma série de pesquisas sobre a eficiência da ibogaína para o fim do vício em drogas. Só a partir dos anos 2000, porém, que o assunto foi resgatado por mais cientistas e levado aos laboratórios.


A partir das pesquisas recentes, sabe-se que, além de fazer a pessoa sonhar acordada, a ibogaína tem como efeito forte enjôo e tonturas. “É uma experiência desagradável, a viagem é ruim. O paciente vomita, sente tontura, os pensamentos ficam confusos”, explica Dr. Bruno Rasmussen, participante da pesquisa da Unifesp e um dos clínicos dos pioneiros em pesquisa com ibogaína no Brasil. "Esse efeito dura de quatro a oito horas. É muito desconfortável do ponto de vista físico, mas não do ponto de vista mental.”


A susbtância, no entanto, não é considerada alucinógena. O psiquiatra chileno Claudio Naranjo descreveu a ibogaína como um oniro frênico, uma substância que faz o cérebro sonhar, e não alucinar. “É um sonho acordado”, explica Dr. Rasmussen. “Você está acordado, mas você sonha."


O pó da ibogaína é colocado em cápsulas que são ingeridas durante o tratamento

Psicologicamente, a viagem da ibogaína foi o que mudou a vida do Felipe. Ele me contou ao telefone que, apesar de ter passado muito mal, se sentiu muito bem. “Muita coisa mudou, era como se tivessem tirado meu cérebro sujo e me dessem um cérebro novo. Peguei gosto pela leitura, pelo estudo, e eu nunca gostei de estudar. Voltaram algumas coisas que eu tinha dentro de mim e que tinham morrido com a droga, que acaba com a pessoa”, relata.


A ibogaína tem efeito que os especialistas chamam de expansão de consciência. Segundo os pesquisadores, faz o paciente perceber quais são as coisas que estão prejudicando sua vida e o que pode fazer para melhorar. O biomédico Eduardo Schenberg, um dos autores da pesquisa da Unifesp e que agora conduz teste clínico com MDMA, explica que é como se a ibogaína mostrasse um filme de horror que faz com que o paciente tome consciência do seu caminho errante. O Felipe contou que é assim mesmo: “Tive muitas lembranças da minha infância, coisas que eu nem sabia, vi imagens assustadoras. Também vi coisas relacionadas à natureza, mas com formas e cores diferentes.”



Fonte: Site contextolivre.com.br julho de2016

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