quinta-feira, 3 de maio de 2012

AS TEORIAS CIENTÍFICAS DA ACUPUNTURA

 AS TEORIAS CIENTÍFICAS DA ACUPUNTURA
Lilian Moreira Jacques
Trabalho aceito para publicação pela editora Hucitec como capítulo de uma
coletânea sobre acupuntura
O uso de recursos terapêuticos originários da medicina tradicional
chinesa por grupos sociais de cultura ocidental em todo o mundo, a partir do
início dos anos 70, impeliu a comunidade científica a examinar este sistema de
atenção à saúde. As questões epistemológicas e metodológicas que
emergiram neste processo apresentaram grandes desafios à construção do
diálogo entre os campos da medicina tradicional chinesa e da ciência
biomédica ocidental.
A visão da filosofia da ciência que admite diferentes maneiras de
conhecer e construir objetos científicos (CHAUÍ, 1994) e a caracterização do
campo da medicina tradicional chinesa como uma racionalidade médica,
segundo a definição desta categoria em LUZ (1995) serviram como referência,
neste texto, para a demarcação das vastas fronteiras do objeto de estudo. A
opção por uma abordagem histórica revelou-se instrumental na superação de
obstáculos conceituais entre os dois campos.
Os precursores da acupuntura moderna, informada pelo
desenvolvimento das pesquisas em neurociência, foram Gerhard van Swieten e
Rougement. O primeiro especulou sobre as bases neurológicas da acupuntura
e da moxibustão, em 1755. O segundo escreveu sobre acupuntura e
moxibustão como formas de terapia por contra-irritação, em 1798 (BIRCH;
FELT,1999).
As bases da prática da acupuntura moderna na Europa foram erigidas
por Soulié de Morant, no início do século XX. Ele propôs correlações entre a
medicina tradicional chinesa e a medicina ocidental colocando-se contrário à
ênfase dada às incompatibilidades entre os dois os campos. Foi incansável, ao
longo de quase 40 anos, na divulgação deste método de tratamento junto a
jovens profissionais de saúde.
Os estudos clínicos de Soulié de Morant e de outros pioneiros não
cumprem os critérios científicos exigidos nos estudos clínicos de hoje, mas
ocupam um lugar simbólico no início da construção da ponte entre o campo da
acupuntura e o da comunidade biomédica ocidental.
Os critérios de controle que tornam um estudo confiável na medicina
ocidental colocam restrições problemáticas à medicina tradicional chinesa, que
identifica subgrupos de diagnósticos diferenciados para cada alteração da
saúde definida por critérios alopáticos.
A literatura clínica tradicional chinesa preconiza conjuntos específicos de
pontos para tratar cada subgrupo de diagnóstico diferenciado, uma seleção que
pode ser modificada para atender as características individuais dos pacientes,
tornando cada tratamento único. Os estudos clínicos científicos, entretanto,
expressam o diagnóstico em termos biomédicos e seus protocolos requerem
que os mesmos pontos sejam utilizados em todos os pacientes.
Esta exigência metodológica obriga que se reformule a questão sobre a
eficácia da acupuntura como uma modalidade autonômica de tratamento, para
uma questão sobre a eficácia da acupuntura como tratamento biomédico. A
mudança de significado compromete o exame da hipótese forte da acupuntura:
o tratamento que resulta da combinação de acupuntura com o método de
diagnóstico da medicina tradicional chinesa é superior ao tratamento no qual
apenas uma faceta desta modalidade integral de tratamento é controlada
(MAYER 2000). Em outras palavras, a eficácia das ações específicas da
acupuntura para uma determinada alteração da saúde está vinculada à
observação dos preceitos de seus próprios cânones: doutrinas do yin/yang e
das cinco fases, substâncias vitais, teoria dos zang fu, teoria dos meridianos e
pontos, etiologia, semiologia e princípios de diagnóstico sugundo a medicina
tradicional chinesa.

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